Este último semestre as aulas de Voz, com João Henriques, foram dedicadas ao verso dos séculos XVI, XVII e XVIII.. A minha escolha recaiu sobre o texto de Jean Racine Fedra. Dele elegi um monólogo de Arícia, eis parte dele:
Amo, querida Ismene, o requintado orgulho
Que nunca se dobrou a um jugo amoroso.
Fedra honrava-se me vão c’os amores de Teseu:
Eu sou mais exigente e fujo à glória fácil
De colher homenagens a mil outra já dadas,
D’entrar num coração aberto em muito lados,
Comover e domar coração inflexível,
Introduzir dor em alma que não sente,
Um cativo prender deslumbrado c’os ferros
Contra o jugo gozando a inútil revolta,
É isto que me excita e é isso que eu quero,
É mais simples vencer Hércules que Hipólito;
E mais vezes vencido e logo conquistado,
Menos glória daria aos olhos sedutores.
Aprendemos aqui como dar vida às palavras, como passá-las do bidimensional do papel para o tridimensional da voz. Tridimensional porque quanto mais rico for o texto em imagens mais vivo ele é e enqunato tal mais palpável, também. Para isto concorrem várias aprendizagens: a da respiração – a inspiração expressiva e a expiração em palavra, as várias massas, que dão ao texto as mais variadas nuances e, novamente, as imagens que ligam as palavras à imaginação do actor dando-lhe um sentido próprio e individual que deve caminhar para o espectador por forma a também ele evocar a sua imaginação.
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