23-29/01/2011 - "Machimbombo" com Marco António Rodrigues






Um estudo cénico a partir de Terra Sonâmbula e Fio das Missangas de Mia Couto. Do primeiro, Terra Sonâmbula, constam um prólogo e um epílogo, as história que se contam são as missangas, do segundo livro. Não houve a pretensão de criar um espectáculo imutável, existem tantas formas de fazer este trabalho quanto pessoas. Cada conto conta uma forma de ver o mundo dentro do fantástico universo e universo fantástico do autor. Cada história é alimentada por um cenário de guerra, como se por via desse ambiente fosse imprescindível acreditar. Foi este o grande mote do espectáculo, a vida que nasce da morte, a esperança tão necessária no "Machimbombo"
Unem-se aqui vários interesses dos quais destaco os da exploração da lusofonia e a aprendizagem diária. Por cerca de 3 meses Marco António mostrou-nos uma ideia de teatro perto da popular, com filiação brechtiana. A verdade é que a quarta parede é deitada a baixo e com ela o acordo tácito em que o espectador acredita que o que vê em palco é uma fracção do mundo em sentido realista. É, de facto uma fracção do mundo, mas o espectador tal como o actor é participe, porque afinal é cidadão. Teatro parece aqui ser entendido como um acto político no sentido do interesse do cidadão, inalienável desse facto, aliás.

18/01/2011 - "A Disputa" de Marivaux com António Durães


O texto de Marivaux conta uma história em que se pretende conhecer a primeira idade do mundo, e com ela os amores e desamores, principalmente desamores, na verdade. Parece que o autor nos dá uma prespectiva do mundo do século XVIII muito próxima da actual, plena de intrigas e invejas mas que deixa algo parecido com uma luz ao fundo do túnel, uma esperança de amor e verdade.
António Durães foi o mestre durante cerca de 4 meses. O objectivo do trabalho foi sempre o de valorizar a palavra, não só pelo significado que ela tem à partida mas também pelo sentido guardado por trás dela. O movimento acontece pela palavra num momento em que se considera a "leitura encenada" um espectáulo por si só e não uma parte do processo.

09/2010- 11/2010 - Princípios Físicos de Rudolf Laban com Catarina Lacerda

O trabalho de Laban segue a ideia de que todo o movimento humano é constituído pelos mesmos elementos, seja na arte, no trabalho ou na vida quotidiana. Apercebeu-se, assim, dos elementos constitutivos do movimento e da sua utilização. No nosso caso, e tratando-se de um laboratório de movimento direccionado para teatro, interessou-nos a ideia corporal pressão, cortar, saltear, sacudir, torcer, deslizar, flutuar e murro. A constatação física do movimento preciso, com inicio e fim delimitado, permitiram a passagem para um estado emocional. O processo foi então da passagem de uma tensão física para uma sensação, e daí para uma emoção.

18/11/2010 - Peça Didática " A Decisão" de B. Brecht com Luís Varela


Através da peça didáctica foram transmitidas as chaves-mestras do pensamento e do teatro brechtiano. Caracteriza-se a peça didáctica por ter um forte sentido de praxis - o saber fazer - só se aprende fazendo. Como base bibliográfica esteve "A Cena de Rua" do mesmo autor com a abordagem da eficácia da reconstituição de um acontecimento. Conceitos agregados a este foram teatro épico, distanciamento, gestus.
Com o "A Decisão", como ponto de partida teórico esteve a problemática do acordo à luz da Revolução marxista dos anos 20. O Materialismo Dialéctico como o seu fundamento do todo em prol do individuo foi o que se tentou mostrar em termos práticos com a Decisão.
A Peça Didática é experimental, dentro do seu tempo. Formalmente é muito revolucionária pois une o teatro com o canto com a ideia da anti-ilusão. Para o actor, deve existir uma definição do que mostra e do que narra. O actor mostra que mostra para mais facilmente submeter à crítica.

03/11/2010 - Participação em TELL com encenação de Inês Vicente



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03/11/2010- Tell - Festival de Performances no Passos Manuel

A escuridão dá o mote ao festival TELL. Durante cinco noites, 35 artistas são convidados a apresentar performances “às escuras”, naquela que pretende ser “uma metáfora do obscurantismo cultural” em Portugal
A partir deste tema, Inês Vicente criou um universo de sonho com base nos "Souffleurs" - aqueles que sopram o texto ao actor; a alteração é que quem recebeu um texto soprado foi o espectador. Pequenas frases de diversos autores: de Pablo Neruda a André Malraux passando por Carlos J Pessoa, foram segredadas com o intuito de elevar o ego!
Exemplos das frases segredadas são:

"Eu sei que isto lhe parece confuso, porventura é… Não importa o que é!… Aconteceu!… Preciso muito de lhe dizer certas coisas… Por exemplo: sol, gosta de sol?…"
In: Rosa da Mouraria | Carlos J. Pessoa

"És livre. Pouco importa o resto. Disse-te que eras livre… não me peças mais."
In: A condição Humana | André Malraux

"Não fuja… Vemo-nos mais tarde!..."
Inês Vicente.

"Olhe, desculpe ser tão directo, é que só tenho 15 minutos para falar consigo e depois entrego a alma ao Criador sabe e…"
In: Rosa da Mouraria | Carlos J. Pessoa

01/10/2010 - Poema Sinfónico para 100 Metrónomos com Nuno Carinhas


Uma provocatória instalação sonora e cenográfica (ou happening musical, ou…) assinada por György Ligeti (1923-2006), compositor que acrescentou outros sons ao universo da música contemporânea, a partir de um diálogo indisciplinado com os movimentos de vanguarda e a tradição. Desta feita com o apoio musical de Mário Teixeira.

Nesta peça, concebida em 1962 (período em que ensaiou uma aproximação aos pressupostos políticos e estéticos do grupo Fluxus), Ligeti explora um conceito que nunca deixou de o fascinar: a combinação de várias linhas musicais a ritmos e andamentos distintos. Em cada grupo de dez, os metrónomos são regulados a diferentes velocidades. O resultado começa por ser caótico, próximo de uma sinfonia polirrítmica, mas do seu abrandamento gradual, provocado pela perda de energia, vão emergindo padrões rítmicos regulares, até restar apenas o tiquetaque de um aparelho. O resto, como no teatro, é silêncio.

16-19/09/2010 - Fala da Criada Dos Noailles de Jorge Silva Melo



Peça que tem por título completo Fala da Criada dos Noailles que no Fim de Contas Vamos Descobrir Chamar-se Também Séverine numa Noite do Inverno de 1975, em Hyéres e como subtítulo Uma paródia Inconsequente de Jorge Silva Melo. O Conde de Noialles teria sido o financiador do filme de Buñuel L’ Âge d’Or e mecenas de muitos dos artistas do movimento surrealista. Agora vamos encontrar a sua criada que relembra os anos loucos do patrão, mas também o segredo de ser Séverine, personagem central de outro filme de Buñuel, Belle de Jour. Elsa Galvão dá corpo ao monólogo da criada, a encenação e a autoria do texto é, claro está, de Jorge Silva Melo.