Todas as Boas Ideias Nascem em Diálogo



O último desafio em terreno escolar corresponde aos Projectos Independentes. A turma dividida em 3 teve como tarefa a criação de uma dramaturgia. O texto proposto foi Pentateuco Manual de Sobrevivência para o ano 2000: Peregrinação – Fio de Ariadne. Todas as linguagens cénicas se uniram para criar um ponto de partida e de chegada comum. O texto fala exaustivamente de Portugal, dum povo resignado mas esperançoso ainda nos Descobrimentos do século XV. Nós alunos de teatro, pegamos no texto como portugueses que somos e tentamos apelar a uma necessidade de acção que começa onde começam todas as boas ideias, em diálogo. Assim, uma família desestruturada recebe uma visita de outros tempos, quer passados, quer futuros, e ao final da refeição falam de Portugal. Todas se apercebem da necessidade de mudança menos uma, a dona de todo aquele desvario, ou sonho, afinal de contas o mundo avança à custa de vontades contraditórias. No final, interpelada pela estranha visita, também ela compreende o que se passa e dá voz às palavras de D. Afonso Henriques: fundarei Portugal porque não vos compreendo. A isto se une uma cenografia a apelar a um horizonte avermelhado em que se vê o futuro de Portugal, figurinos repletos da identidade portuguesa, música que progressivamente mistura guitarras portuguesas a elementos actuais. Um trabalho de todos, num esforço por compreender o país e cada pessoa que o habita.

O Verso Dramático: Da Respiração às Imagens que dão Voz às Palavras, com João Henriques

Este último semestre as aulas de Voz, com João Henriques, foram dedicadas ao verso dos séculos XVI, XVII e XVIII.. A minha escolha recaiu sobre o texto de Jean Racine Fedra. Dele elegi um monólogo de Arícia, eis parte dele:

Amo, querida Ismene, o requintado orgulho
Que nunca se dobrou a um jugo amoroso.
Fedra honrava-se me vão c’os amores de Teseu:
Eu sou mais exigente e fujo à glória fácil
De colher homenagens a mil outra já dadas,
D’entrar num coração aberto em muito lados,
Comover e domar coração inflexível,
Introduzir dor em alma que não sente,
Um cativo prender deslumbrado c’os ferros
Contra o jugo gozando a inútil revolta,
É isto que me excita e é isso que eu quero,
É mais simples vencer Hércules que Hipólito;
E mais vezes vencido e logo conquistado,
Menos glória daria aos olhos sedutores.


Aprendemos aqui como dar vida às palavras, como passá-las do bidimensional do papel para o tridimensional da voz. Tridimensional porque quanto mais rico for o texto em imagens mais vivo ele é e enqunato tal mais palpável, também. Para isto concorrem várias aprendizagens: a da respiração – a inspiração expressiva e a expiração em palavra, as várias massas, que dão ao texto as mais variadas nuances e, novamente, as imagens que ligam as palavras à imaginação do actor dando-lhe um sentido próprio e individual que deve caminhar para o espectador por forma a também ele evocar a sua imaginação.

Ao Fim E Ao Cabo



Ao Fim e ao Cabo, com José Topa

O que se procurou aqui foi o trabalho de interpretação do monólodo. O texto foi um desafio: Discronia de Sinisterra. Contava uma história, talvez repetida, de uma mulher em estado de nervos, a dar conta ao seu amigo Sérgio, um transtorno com o tempo; pelo meio, falava sem parar gozando do seu amigo sem se aperceber e sem lhe dar oportunidade de resposta. A construção deste monólogo caminhou a par da construção de cena e contra-cena; da construção de espaço e de tempo.

Exactamente Antunes


Como parte do trabalho de actor faz também parte o trabalho de observação. Nestes termos, foi dada a oportunidade de se assistir aos ensaios de Exactamente Antunes, em apresentação no Teatro Nacional do S. João de 17 Março a 17 de Abril, encenado por Nuno Carinhas e com assistência de Encenação de Cristina Carvalhal.
Jacinto Lucas Pires dramatiza a bela história de Almada Negreiros Nome de Guerra e nela coloca também o autor do romance.
Abraça assim, o TNSJ, o desafio de um texto contemporâneo, com referências muito conhecidas de todos os portugueses.
No final da experiência fica a noção de que um processo de trabalho tem tantas formas quantas pessoas, mas todos eles desembocam num ponto essencial, no de dar ao espectar uma fatia de vida, tirada dela tanto quanto o possível.

23-29/01/2011 - "Machimbombo" com Marco António Rodrigues






Um estudo cénico a partir de Terra Sonâmbula e Fio das Missangas de Mia Couto. Do primeiro, Terra Sonâmbula, constam um prólogo e um epílogo, as história que se contam são as missangas, do segundo livro. Não houve a pretensão de criar um espectáculo imutável, existem tantas formas de fazer este trabalho quanto pessoas. Cada conto conta uma forma de ver o mundo dentro do fantástico universo e universo fantástico do autor. Cada história é alimentada por um cenário de guerra, como se por via desse ambiente fosse imprescindível acreditar. Foi este o grande mote do espectáculo, a vida que nasce da morte, a esperança tão necessária no "Machimbombo"
Unem-se aqui vários interesses dos quais destaco os da exploração da lusofonia e a aprendizagem diária. Por cerca de 3 meses Marco António mostrou-nos uma ideia de teatro perto da popular, com filiação brechtiana. A verdade é que a quarta parede é deitada a baixo e com ela o acordo tácito em que o espectador acredita que o que vê em palco é uma fracção do mundo em sentido realista. É, de facto uma fracção do mundo, mas o espectador tal como o actor é participe, porque afinal é cidadão. Teatro parece aqui ser entendido como um acto político no sentido do interesse do cidadão, inalienável desse facto, aliás.

18/01/2011 - "A Disputa" de Marivaux com António Durães


O texto de Marivaux conta uma história em que se pretende conhecer a primeira idade do mundo, e com ela os amores e desamores, principalmente desamores, na verdade. Parece que o autor nos dá uma prespectiva do mundo do século XVIII muito próxima da actual, plena de intrigas e invejas mas que deixa algo parecido com uma luz ao fundo do túnel, uma esperança de amor e verdade.
António Durães foi o mestre durante cerca de 4 meses. O objectivo do trabalho foi sempre o de valorizar a palavra, não só pelo significado que ela tem à partida mas também pelo sentido guardado por trás dela. O movimento acontece pela palavra num momento em que se considera a "leitura encenada" um espectáulo por si só e não uma parte do processo.

09/2010- 11/2010 - Princípios Físicos de Rudolf Laban com Catarina Lacerda

O trabalho de Laban segue a ideia de que todo o movimento humano é constituído pelos mesmos elementos, seja na arte, no trabalho ou na vida quotidiana. Apercebeu-se, assim, dos elementos constitutivos do movimento e da sua utilização. No nosso caso, e tratando-se de um laboratório de movimento direccionado para teatro, interessou-nos a ideia corporal pressão, cortar, saltear, sacudir, torcer, deslizar, flutuar e murro. A constatação física do movimento preciso, com inicio e fim delimitado, permitiram a passagem para um estado emocional. O processo foi então da passagem de uma tensão física para uma sensação, e daí para uma emoção.

18/11/2010 - Peça Didática " A Decisão" de B. Brecht com Luís Varela


Através da peça didáctica foram transmitidas as chaves-mestras do pensamento e do teatro brechtiano. Caracteriza-se a peça didáctica por ter um forte sentido de praxis - o saber fazer - só se aprende fazendo. Como base bibliográfica esteve "A Cena de Rua" do mesmo autor com a abordagem da eficácia da reconstituição de um acontecimento. Conceitos agregados a este foram teatro épico, distanciamento, gestus.
Com o "A Decisão", como ponto de partida teórico esteve a problemática do acordo à luz da Revolução marxista dos anos 20. O Materialismo Dialéctico como o seu fundamento do todo em prol do individuo foi o que se tentou mostrar em termos práticos com a Decisão.
A Peça Didática é experimental, dentro do seu tempo. Formalmente é muito revolucionária pois une o teatro com o canto com a ideia da anti-ilusão. Para o actor, deve existir uma definição do que mostra e do que narra. O actor mostra que mostra para mais facilmente submeter à crítica.

03/11/2010 - Participação em TELL com encenação de Inês Vicente



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03/11/2010- Tell - Festival de Performances no Passos Manuel

A escuridão dá o mote ao festival TELL. Durante cinco noites, 35 artistas são convidados a apresentar performances “às escuras”, naquela que pretende ser “uma metáfora do obscurantismo cultural” em Portugal
A partir deste tema, Inês Vicente criou um universo de sonho com base nos "Souffleurs" - aqueles que sopram o texto ao actor; a alteração é que quem recebeu um texto soprado foi o espectador. Pequenas frases de diversos autores: de Pablo Neruda a André Malraux passando por Carlos J Pessoa, foram segredadas com o intuito de elevar o ego!
Exemplos das frases segredadas são:

"Eu sei que isto lhe parece confuso, porventura é… Não importa o que é!… Aconteceu!… Preciso muito de lhe dizer certas coisas… Por exemplo: sol, gosta de sol?…"
In: Rosa da Mouraria | Carlos J. Pessoa

"És livre. Pouco importa o resto. Disse-te que eras livre… não me peças mais."
In: A condição Humana | André Malraux

"Não fuja… Vemo-nos mais tarde!..."
Inês Vicente.

"Olhe, desculpe ser tão directo, é que só tenho 15 minutos para falar consigo e depois entrego a alma ao Criador sabe e…"
In: Rosa da Mouraria | Carlos J. Pessoa

01/10/2010 - Poema Sinfónico para 100 Metrónomos com Nuno Carinhas


Uma provocatória instalação sonora e cenográfica (ou happening musical, ou…) assinada por György Ligeti (1923-2006), compositor que acrescentou outros sons ao universo da música contemporânea, a partir de um diálogo indisciplinado com os movimentos de vanguarda e a tradição. Desta feita com o apoio musical de Mário Teixeira.

Nesta peça, concebida em 1962 (período em que ensaiou uma aproximação aos pressupostos políticos e estéticos do grupo Fluxus), Ligeti explora um conceito que nunca deixou de o fascinar: a combinação de várias linhas musicais a ritmos e andamentos distintos. Em cada grupo de dez, os metrónomos são regulados a diferentes velocidades. O resultado começa por ser caótico, próximo de uma sinfonia polirrítmica, mas do seu abrandamento gradual, provocado pela perda de energia, vão emergindo padrões rítmicos regulares, até restar apenas o tiquetaque de um aparelho. O resto, como no teatro, é silêncio.

16-19/09/2010 - Fala da Criada Dos Noailles de Jorge Silva Melo



Peça que tem por título completo Fala da Criada dos Noailles que no Fim de Contas Vamos Descobrir Chamar-se Também Séverine numa Noite do Inverno de 1975, em Hyéres e como subtítulo Uma paródia Inconsequente de Jorge Silva Melo. O Conde de Noialles teria sido o financiador do filme de Buñuel L’ Âge d’Or e mecenas de muitos dos artistas do movimento surrealista. Agora vamos encontrar a sua criada que relembra os anos loucos do patrão, mas também o segredo de ser Séverine, personagem central de outro filme de Buñuel, Belle de Jour. Elsa Galvão dá corpo ao monólogo da criada, a encenação e a autoria do texto é, claro está, de Jorge Silva Melo.